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Iguatemi

Mais de 300 pessoas estão na lista de espera por um coração no Brasil

Foto: Ricardo Wolffenbüttel

 

O Brasil tem hoje uma fila de cidadãos angustiados, mas esperançosos. Mais de 300 pessoas precisam de um transplante de coração. Escalar, correr, brincar de esconde-esconde são atividades que a Lavínia Cruvinel Lacerda, de 11 anos, não podia fazer até pouco tempo atrás. “Não conseguia ir ao parquinho, não conseguia fazer Educação Física na escola. Eu não conseguia nem andar direito”, diz.

 

Ela nasceu com uma doença que impedia o coração de bombear corretamente o sangue pelo corpo. “Eu sempre me cansava muito e a maioria das vezes que eu me cansava eu sempre desmaiava, passava mal e tinha que ir para o hospital”, conta Lavínia. Um problema que quase fez a dentista Michelle Cruvinel perder a filha em março de 2023. “Ela acordou, encostou na irmã: ‘Chama a mamãe que eu estou passando mal’. Quando a gente chegou lá, ela estava toda suada e desmaiou. Meu marido a pegou desmaiada. A gente chegou com ela lá no hospital. Chegando lá no hospital, ela teve uma parada cardíaca”, lembra Michelle.

 

Era sinal de que o coração já batia fraco demais para manter a Lavínia viva. Ela, então, entrou para a fila do transplante. Depois de 42 dias internada, apareceu um órgão compatível e a cirurgia, em maio, foi um sucesso. É como um renascimento. Experiência que a Márcia viveu há exatos 27 anos. Ela foi a primeira mulher a ter sucesso em um transplante de coração no Brasil. Em 1996, recebeu um órgão novo em uma época em que manifestar o desejo de ser doador ainda era coisa rara. “O rapaz era de Santos, ele veio passar o fim de semana aqui em São Paulo, na casa de uma tia, e ele foi assaltado. O assaltante caiu no chão, deu um tiro na cabeça dele e ele teve morte encefálica imediata. E foram pegar as coisas dele para levar para o Hospital das Clínicas, para onde ele foi, e tinha uma folha… Me arrepio até hoje. Uma folha de caderno escrito que se acontecesse alguma coisa com ele era para doar todos os órgãos. Está aqui há 27 anos. E eu cuido bem dele aqui”, diz a tradutora Márcia Ferreira Maluf.

 

“Uma das maneiras de aumentar a doação é, principalmente, as pessoas se informarem sobre o processo de transplante e se declararem doadoras, informarem seus familiares desse desejo de ser um doador de órgãos. A gente ainda tem uma taxa muito alta de recusa familiar e essa recusa familiar impede a doação”, explica Luciana Haddad, vice-presidente da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos.

 

Em 2018, a Lavínia participou no Jornal Nacional do projeto “Brasil que eu quero”. Tinha apenas 5 anos. “O Brasil que eu quero para o futuro é que você olhe para o lado, tenha mais amor no seu coração e avise a sua família: ‘Sou doador de órgãos’”, disse Lavínia na ocasião. Agora, de coração novo, ela quer ajudar quem ainda está na luta por um recomeço. “Meu maior sonho mesmo é ser cardiologista igual ao meu médico. Eu quero fazer o bem para todas as pessoas”, afirma Lavínia.

 

Fonte: Fonte: G1