Por: Luiz Henrique Berger
A Rádio Repórter apresenta a primeira reportagem de uma série que pretende mostrar iniciativas, ações e projetos desenvolvidos em escolas de Ijuí em tempos de fake news e boatos, gerando preocupação e medo de pais e estudantes.
Ao aproximar-se das imediações da Escola da Penha, na Rua Mariano de Mattos, já se percebe o empenho em bem receber os alunos que chegam para mais um dia de aula. Duas bandeiras brancas tremulam com o vento da tarde de quinta-feira. O 20 de abril deveria ser um dia normal de aula, mas não é. Tanto que a 36ª Coordenadoria de Educação fechou as portas e foi de escola em escola para o Dia D: “amar de verdade”, liderado pela titular Eveline Eberle.
O 20 de abril é uma triste data que faz lembrar de um ataque em Escola dos Estados Unidos, onde 11 jovens e um professor morreram. E entre os boatos mais recentes, havia o de que no Brasil, a quinta-feira seria de ataques. Nada se confirmou, mas serviu para muitos não irem para a aula.
A bandeira branca como símbolo de que aquele é um local de paz é apenas uma das ideias na Penha, pensadas dentro esse novo contexto de preocupação, apreensão e porque não dizer, pavor que atinge alunos e familiares, a partir do recente acontecimento em Blumenau.
O portão de acesso à Escola está trancado e só é aberto após a identificação. Mas não é essa a ação que move os que fazem o dia a dia da Escola Estadual que há 20 anos é dirigida por Dulce Baggio.
A diretora conta que, enquanto gestora, recebeu orientações superiores de como proceder, ao mesmo tempo em que agiu a partir do que se apresentava nos últimos dias como desafios.
Elogiou a equipe de professoras, “que não ficam esperando. Elas planejam, não esperam, e o mais importante, vemos resultados”. Dulce se referia ao Projeto de Vida elaborado a partir do mais recente episódio de ataque a uma escola
A ideia de promover um ambiente acolhedor norteou a iniciativa, com o ponta pé inicial dado por meio do grupo de whats app. “Sim, nosso grupo de whats serve também para planejar, mesmo que seja às 11 da noite”, comentou a professora Meraci, entusiasta da ideia. Em uma roda de conversa com professoras, Meraci diz: “Não é na escola que nasce a violência. Nosso empenho é no sentido de fazer com que a escola seja uma local de tranqüilidade para os alunos, trabalhando as diferentes realidades das crianças”.
As professoras tem clareza do papel que desempenham, para além da rotina escolar. “A empolgação dos pequenos é nossa também. E eles se espelham em nós”, observa Meraci.
Para “amenizar” o noticiário que chega a boa parte dos estudantes (a exceção fica por conta dos pequenos), uma das estratégias “é deixar eles falarem sobre seus sentimentos”, diz a professora Júlia. Para ela, dar voz aos alunos permite que eles elaborem suas vivências”.
Júlia é outra profissional da Escola da Penha entusiasmada com o ofício de professora e com o projeto que mobilizou as colegas, sempre “trabalhando por meio da ludicidade”, observou ela.
Uma visita inusitada foi contada em detalhes. “Monteiro Lobato chegou carregando uma mala”, logo contou um falante aluno, para em seguida outras crianças citarem histórias e personagens que envolveram a visita.
A Coordenadora Pedagógica Sidônia elogiou os momentos literários, as rodas de conversa, os ensaios musicais, ou seja, vivências por meio da arte para enfrentar tempos tão difíceis.
E em uma dessas rodas de conversa, os pequenos de 6 e 7 anos contaram a respeito do que vivenciaram nas últimas semanas na escola. “Quando o colega cai a gente estende a mão”, disse um bem falante aluninho, para em seguida outro dizer que paz significava harmonia. Os relatos seguiram, com citações para as diferenças entre os colegas, o cuidado com o outro, com os especiais, resumida na frase dita por uma pequeninha, de que “paz era tentar entender o amigo”.
Ficou visível o empenho da Escola em dar voz aos alunos, o chamado tempo de escuta, fundamental em tempos pós pandemia e isolamento e de uso prolongado dos celulares. “Ouvir o que elas tem a dizer é fundamental”, resumiu Meraci.
Os pequenos, após a roda de conversa, voltaram para a sala de aula onde seguiram assistindo ao filme “O Touro Ferdinando”.
Um vídeo foi produzido na escola tendo com trilha sonora a música A Paz, do grupo Roupa Nova.
Ou seja, o tema da paz e das boas relações se espalhou na Penha, envolvendo a todos e com grande adesão.
A primeira reportagem sobre o tema fez lembrar a frase dita pelo médico Dráuzio Varella, de que “Há professores aos quais devemos muito, por ampliar nossos horizontes, dar lições de vida e apontar caminhos que não teríamos encontrado”.